quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Monólogos em festival

Por Paulo Spurgeon DePaula

Para o deleite dos amantes do teatro e como fonte intensa de aprendizado teatral, Vitória foi palco do II Festival Latino Americano de Teatro de 17 a 22 de novembro de 2015. Quando digo “fonte intensa de aprendizado teatral”, não me refiro apenas às palestras e oficina oferecidas durante o Festival, mas à própria vivência do que é um monólogo, com interpretações magistrais de atores que, em alguns casos se expressavam em espanhol, mas que com sua interpretação vocal, corporal e comunicação, se faziam entender perfeitamente, mesmo àqueles que têm dificuldade de compreender o espanhol.

Quem assistiu “La Mujer Del Don”, com Carmen Briana, do Paraguai, por exemplo, desde o início se deslumbrou com a atriz que iniciava seu monólogo fazendo um diálogo entre uma menina de oito anos e sua avó. Já nesse primeiro solilóquio ficamos sabendo que o “Don” não é um senhor, mas um DOM, o dom da mediunidade, da vidência, que lhe foi segredado pela avó. E a atriz cresce – dos 8 anos aos 18, aos 30, aos 40 e até chegar à idade da avó, com quem iniciara a história. Por seu dom, vem a ser uma bem sucedida mulher que, através de sua capacidade de “ver além”, se torna extremamente procurada, convidada até mesmo para dar suas previsões em programas de televisão, enfim uma mulher que vivia na crista da onda. E, a cada passo, a cada idade ou ciclo de vida, Carmen Briana é a mulher que representa: coquete e flerteira, aos 18, socialite e “bon vivant” aos 30, já aos 40 séria e indagadora sobre sua real condição, como vidente, e posição como ser humano, como alguém que não quer, mas tem de querer seguir um destino que lhe foi imposto, assim seguindo até o fim, quando segreda o segredo que lhe foi revelado por sua avó quando ela tinha 8 anos.

Em sua palestra sobre o Processo Criativo do Monólogo, no encerramento da programação do Festival, Renato Di Renzo, o mestre do teatro brasileiro de quem temos notícias desde o tempo do importante movimento do Teatro Oficina, fundado em São Paulo, em 1958, falou sobre experiências cênicas internacionais e sobre o manifesto da cultura brasileira, o Tropicalismo, que influenciou todas as artes do Brasil.

Ao falar de sua experiência e de tantos grandes nomes do teatro brasileiro com quem trabalhou, como o próprio José Celso Martinez, o qual continua na direção do Oficina,voltou-se à importância do monólogo como uma excelente e imprescindível arma para o desenvolvimento do trabalho do ator. Os que assistiram aos Monólogos, sem dúvida, prontamente compreenderam o que o Mestre dizia: o monólogo sintetiza toda a gama de expressão do ator – seus tons de voz, suas caracterizações de vários personagens ao retratá-los sob o prisma do ator, que necessita também de excelente dedicação ao preparar suas expressões faciais, seu gestual, sua postura e suas variadas entonações vocais. Sua palestra e a experiência passada ao público foram bastante elucidativas, especialmente àqueles que acabaram de ter a experiência – rara – de frequentar um Festival de Monólogos.

A palestra de Renato Di Renzo aconteceu em um novo espaço teatral, inaugurado durante o II FLAM, o Teatro Du Beco, em Jucutuquara, antigo bairro residencial de Vitória, justamente com um monólogo adaptado por ele de um original de Dario Fo e Franca Rame que, com o título de A Casa Amarela, foi também dirigido por Di Renzo e interpretado pela atriz capixaba Verônica Gomes.

Não pararei por aqui. Tenho mais a dizer sobre este importante acontecimento teatral no final de 2015 em Vitória. Já a seguir, continuarei falando sobre o II FLAM, com o título Monólogos em Festival II. 

Com atriz de La Mujer del Don
                     

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